sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O Que É Ser Ator

(Por Paulo Autran)

Trechos de entrevistas para diversos veículos reunidas no site do Instituto Moreira Salles:

Intuição – “Pode acontecer, numa construção de um personagem, aquele dia abençoado de intuição. E tem outras vezes em que esse dia não chega. Vem a temporada toda, a temporada acaba, e você diz: ‘Não teve aquele dia’. Aí é triste. Você faz porque o texto te leva, o teu personagem te leva, mas você sabe que não atingiu, digamos, o fundo, não foi lá. Acontece. O mais engraçado é que a sua opinião nem sempre coincide com a dos outros.”

Verdade
– “Um dos melhores exercícios que eu acho em teatro para desenvolver a imaginação do ator é mandar ele dizer ‘Eu quero tomar café’ de n maneiras distintas, porque com isso essa simples frase pode ter muitos significados. Ele só tem que dizer isso, ‘Eu quero tomar café’, então tem que falar essas palavras como se estivesse dizendo ‘eu te amo’, ou ‘eu te odeio’, ou ‘minha mãe acabou de morrer’, ou ‘ainda vou te matar’, e assim por diante. O importante na interpretação é o que o personagem tem em mente ao dizer as frases do texto. Isso é que faz uma interpretação ser verdadeira ou não. Quando o ator decora seu texto feito um papagaio e solta simplesmente as palavras, ele não vai causar impressão alguma.”

Leitura e interpretação – “Não há melhor exercício para um ator do que interpretar um texto escrito só para ser lido. É outro tipo de esforço. Você tem a questão do ritmo, de como transmiti-lo ao vivo para uma plateia. É fantástico. A valorização da palavra é diferente da de um diálogo. O diálogo é escrito para ser dito, e aquele texto, não.”

Estrelas – “Não adianta uma atriz pensar assim: ‘Eu vou ser uma estrela’. O público é quem faz as estrelas. De repente, em um espetáculo de principiantes, você se surpreende com aquela menina no palco que nem é tão bonita assim, mas que tem um negócio que você não tira os olhos dela. Por quê? Porque ela tem carisma. Ela um dia vai ser estrela. Então, são seres que, parece, a natureza botou a mão em cima e abençoou. É a mesma coisa na pintura, na arquitetura: tem gente que tem dom. Teatro é arte, então, não é todo mundo que pode ser artista. Muitas pessoas aprendem, muitas pessoas fazem direitinho e não chegam lá.”

Autobiografia – “Foram pouquíssimos os personagens que eu fiz com os quais eu tinha algum ponto de contato. Um deles, em Depois da queda, de Arthur Miller, tinha muitos pontos de contato comigo, com o que eu estava pensando naquela ocasião, com o que eu achava da guerra, da violência, do mal que cada um trás dentro de si, e que nós somos obrigados a conviver com o mal dos outros e com o nosso mal também. Tudo isso batia naquele tempo, embora a vida do personagem fosse totalmente diferente da minha. Mas eu nunca joguei, conscientemente, a minha infância na criação de um personagem – devo fazer isso inconscientemente.”

Permanência – “Esse fato de o teatro ser efêmero, para mim, é um dos seus encantos. Se eu acreditasse, por exemplo, na vida eterna, talvez me preocupasse em não ficar tanto como vão ficar os autores, quanto vão ficar os filmes, quanto vão ficar os programas de televisão, se é que eles vão poder ser guardados por todos os séculos. Mas para mim não é nenhum problema não ser eterno. E não me interessa a mínima, depois que eu acabe, o que é que vai acontecer.”

Fonte: http://michellaub.wordpress.com/2010/03/21/o-que-e-ser-ator-por-paulo-autran/

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Dicas Para Atores: Como Decorar Textos


Uma das principais dificuldades enfrentadas por estudantes de teatro e atores que estão iniciando na carreira é saber como decorar textos! Muitas pessoas nos perguntam se existem técnicas que facilitem este processo tão “chato” (segundo dizem). Não existe nenhuma fórmula mágica, mas vamos apresentar para vocês dicas que podem ajudar e muito! Vale lembrar que essas sugestões podem funcionar muito bem com algumas pessoas e nem tanto com outras. O ator Antonio Fagundes, por exemplo, segundo o próprio, só precisa de 5 minutos para decorar seus textos na novela. Segundo ele, é um dom. Tá com inveja? Vamos lá!

Observação 1: Procure se concentrar ao máximo na leitura do seu texto para melhor assimilação. Evite locais barulhentos, com circulação de pessoas ou com qualquer coisa que possa atrair sua atenção.

Observação 2: Antes de qualquer dica, é importantíssimo que você leia e releia várias vezes seu texto, entenda todo o contexto da história/estória, analise sua personagem e só depois de um estudo completo, comece a decorar suas cenas.

Leia e releia o texto

Para algumas pessoas, basta ler e reler suas cenas algumas vezes e ir assimilando aos poucos. Outras só conseguem se concentrar na decoreba se o texto for lido em voz alta. Qualquer recurso é válido e esse pode ser apenas o ponto de partida para as próximas opções.
Reescreva o texto

Tem gente que só consegue decorar seus textos reescrevendo inúmeras vezes suas cenas. Também é uma forma comum, mas não funciona com todo mundo e pode ser ainda mais demorado se comparado a outros métodos.

Grave seu texto

Tática bem comum e funcional, consiste na gravação em voz dos textos em algum dispositivo como: celulares, iPods, mp3 players ou mini-gravadores. Grave suas cenas e escute, escute, escute várias vezes. No carro, no ônibus, no trem, na academia, caminhando... Você vai perceber que aos poucos vai começar a falar seu texto junto com a gravação e logo logo estará com o texto todo decorado.

Uma dica legal: procure dividir seu texto em faixas de áudio separadas. Assim você pode ficar voltando em cada trecho ainda não decorado, sem a necessidade de voltar demais a cena.
Utilize palavras-chave

Separar os textos em trechos e ir selecionando algumas palavras-chave pode facilitar o processo. Para cada trecho, selecione uma palavra-chave, leia e releia dando enfase à palavra selecionada. Leia e releia somente as palavras-chave inúmeras vezes.

Palavras-chave + Memória fotográfica

A técnica anterior associada a imagens pode ser bem interessante também. Utilize sua imaginação ou faça pequenos desenhos (ou ainda cole recortes de jornal ou revista que estejam associados) para cada palavra-chave em questão. A sua memória fotográfica pode ser mais um recurso nesse processo.

Bata o texto com outro ator

Depois que você já estiver com praticamente tudo decorado, é bem importante que você “bata” (passe) o texto com outra pessoa. Isso é fundamental para perceber se o texto já está bem decorado e, principalmente, como estão o ritmo, as pausas e a interpretação do que está sendo dito.

Capitalize as palavras

Um recurso bem interessante, mas que funciona melhor com textos mais curtos, é o de capitalizar palavras. Ou seja, escrever com todas as letras iniciais maiúsculas.

Vamos a um exemplo prático! O trecho a seguir foi extraído da peça “A Farsa do Advogado Pathelin” (Autor desconhecido).

Pathelin – Isso não vem ao caso. O que precisamos é achar algum modo de ganhar dinheiro. Veja em que estado estão o seu vestido e a minha roupa. Até parece que estamos vestidos de gaze, como anjos de procissão.

Utilizando o método de capitalização das palavras, você poderia dividir o texto da seguinte maneira:

Isso Não Vem Ao Caso.
O Que Precisamos É Achar Algum Modo De Ganhar Dinheiro.
Veja Em Que Estado Estão O Seu Vestido E A Minha Roupa.
Até Parece Que Estamos Vestidos De Gaze, Como Anjos De Procissão.

Destaque as letras iniciais e procure memorizá-las:

Ixxx Nxx Vxx Ax Cxxx
O Qxx Pxxxxxxxxxx É Axxxx Axxxx Mxxx Dx Gxxxxx Dxxxxxx
Vxxx Ex Qxx Exxxxx Exxxx O Sxx Vxxxxx E A Mxxxx Rxxxx
Axx Pxxxxx Qxx Exxxxxx Vxxxxxxx Dx Gxxx, Cxxx Axxxx Dx Pxxxxxxx

E aí, funcionou? Qual método você gostou mais? Você utiliza algum outro método? Conte pra gente! Sua participação é fundamental.

Fonte: testedeelenco.com

Nu Artístico - A Beleza do Corpo





Nu artístico é a designação dada à exposição do corpo de uma pessoa nua em diversos meios artísticos (pintura,escultura ou, mais recentemente, cine e fotografia). É considerado uma das classificações acadêmicas das obras de arte.

A nudez na arte refletiu pelo general os padrões sociais para a estética e a moralidade da época na que a obra foi realizada. Muitas culturas toleram a nudez na arte mais do que na vida real, com diferentes parâmetros sobre o que é aceitável. Assim, num museu no qual se mostram obras com nus, em geral não é aceita a nudez do visitante. Como gênero, o nu é um tema complexo de abordar pelas suas múltiplas variantes, tanto formais quanto estéticas e iconográficas, e há historiadores da arte que o consideram o tema mais importante da história da arte ocidental.

Embora se costume associar ao erotismo, o nu pode ter diversas interpretações e significados, da mitologia até a religião, passando pelo estudo anatômico, ou ainda como representação da beleza e ideal estético da perfeição, como na Grécia Antiga. A arte foi de sempre uma representação do mundo e do ser humano, um reflexo da vida. Portanto, o nu não deixou de estar presente na arte, sobretudo nas épocas anteriores à invenção de procedimentos técnicos para captar imagens do natural (fotografia, cine), quando a pintura e a escultura eram os principais meios para representar a vida. Contudo, a sua representação variou com os valores sociais e culturais de cada época e cada povo, e assim como para os gregos o corpo era um motivo de orgulho, para os judeus —e, depois, para o cristianismo— era motivo de vergonha, era a condição dos escravos e os miseráveis.

O estudo e representação artística do corpo humano foi uma constante em toda a história da arte, da pré-história (Vênus de Willendorf) até a atualidade. O corpo proporciona prazeres e dores, tristeza e alegria, e é um companheiro presente em todas as facetas da vida, com o qual o ser humano transita pelo mundo, e pelo qual sente a necessidade de indagar no seu conhecimento, nos seus pormenores, no seu aspecto tanto físico como recipiente do seu “eu interior”. Da sua faceta mais mundana, relacionada ao erotismo, até a mais espiritual, como ideal de beleza, o nu foi um tema recorrente na produção artística praticamente em todas as culturas que se sucederam no mundo ao longo do tempo.

O nu teve desde tempos antigos - especialmente desde as formulações clássicas da Grécia Antiga— um marcado componente estético, pois o corpo humano é objeto de atração erótica, e constitui um ideal de beleza que vai mudando com o tempo, segundo o gosto coletivo de cada época e cada povo, ou até mesmo o particular de cada espectador. A sexualidade aproximadamente implícita destas imagens levou o gênero do nu a ser objeto quer de admiração quer de condenação e recusa, chegando a estar proibido em épocas de moral puritana, embora sempre desfrutasse de um público que adquiriu e colecionou este tipo de obras. Em tempos mais recentes, os estudos do nu como gênero artístico focam-se nas análises semióticas, especialmente na relação entre obra e espectador, bem como no estudo das relações de gênero. O feminismo criticou o nu como uso objetual do corpo feminino e signo do domínio patriarcal da sociedade ocidental. Artistas como Lucian Freud e Jenny Saville elaboraram um tipo de nu não idealizado para eliminar o conceito tradicional de nu e buscar a sua essência para além dos conceitos de beleza e de gênero.

Atualmente, o nu artístico é amplamente aceite pela sociedade - pelo menos no âmbito ocidental-, e a sua presença cada vez maior em meios de comunicação, cine, fotografia, publicidade e outros mídia, converteu-o num elemento icônico mais do panorama cultural visual do homem e da mulher atual, embora para algumas pessoas ou alguns círculos sociais continue sendo tabu, devido a convencionalismos sociais e educacionais, gerando um preconceito para a nudez, que é conhecido como “gimnofóbia” ou “nudofóbia”.

Artes cênicas

Josephine Baker na revista Un vent de folie (1925).

O nu é também um recurso habitual nas artes cênicas como o teatro e a dança, especialmente desde meados do século XX. Nestas formas artísticas o corpo tem uma especial relevância, pois é transmissor, pelos seus gestos e movimentos, de uma grande quantidade de expressões e sentimentos. No teatro, onde se encena um conto ou drama literário, o nu pode estar justificado —como no cine— pelo roteiro, em cenas no âmbito doméstico ou qualquer situação que o requeira. O nu teatral adquiriu um grande auge nestes últimos tempos graças ao teatro experimental e à influência do happening e a performance, espetáculos que pela sua representação ante um público têm um forte componente teatral. Em tais casos a nudez é empregue como forma de provocação, de impactar o público, de pôr em dúvida os convencionalismos sociais.

Contudo, o nu chegou também ao teatro clássico, em casos como o papel de Desdémona representado pela atriz Sarah Stephenson na montagem do Otelo de Shakespeare efetuado no Mermaid Theatre de Londres em 1971. Em 2007 houve uma grande polêmica pela aparição de Daniel Radcliffe nu na obra Equus, dirigida por Peter Shaffer no Gielgud Theatre da capital inglesa. Radcliffe insistiu em que o nu era somente um elemento mais na obra. A obra conseguiu um enorme sucesso, tanto de público como de crítica.

Na dança, o nu adquire um especial significado, pois é uma forma de expressão do corpo humano, que é o instrumento do qual se servem os bailarinos para mostrar a sua arte. As técnicas de dança requerem grande concentração para dominar todo o corpo, com especial insistência na flexibilidade, na coordenação e no ritmo. Na antiga Roma era frequente que as dançarinas se despissem, especialmente nas festas saturnais e lupercais, sendo prova do seu sucesso o que chegassem até a atualidade os nomes de algumas destas bailarinas, como Taletusa e Cíteris.

No século XX buscaram-se novas formas de expressão baseadas na liberdade do gesto corporal, liberto das ataduras da métrica e do ritmo, adquirindo maior relevância a auto-expressão corporal e a relação com o espaço. Isadora Duncan foi uma das principais promotoras do nu na dança, bailando em numerosas ocasiões seminua ou com finas telas transparentes, como se podia constatar nos copos e nas cerâmicas da Grécia Antiga, com a pretensão de romper com o academismo e a rigidez do ballet clássico. Desde então a nudez na dança contemporânea oscilou segundo a época, aparecendo à época de liberdade e aberturista social, e retraindo-se em períodos de moral mais puritana. Em tempos modernos o corpo nu foi usado por coreógrafos como Jan Fabre, Daniel Léveillé, Maureen Fleming, Lia Rodríguez, Alban Richard, Eléonore Didier, Anna Ventura, Kataline Patkaï.

O nu foi adquirindo relevância na dança especialmente desde a década de 1960, concebido como a mais pura forma de expressão do corpo. Se nos 60 estava em consonância com a libertação sexual, nos anos 1980 teve certo aspecto de reivindicação política, enquanto atualmente é uma mera escolha estética. Para a historiadora Rose Lee Goldberg, a nudez seria uma reação contra a excessiva técnica dos meios audiovisuais, afirmando que “é como se cada certo tempo precisássemos lembrar que a coreografia tem a ver com o corpo”.

Ainda que atualmente seja frequente a nudez na dança, há alguns anos era um tema incômodo, até mesmo para coreógrafos inovadores como Merce Cunningham, que no seu balé Rain Forest (1968), no qual colaborou com o artista pop Andy Warhol, frente à sugestão deste de que os bailarinos atuassem nus, decidiu usar malhas de cor pele, que em algumas cenas estavam cortadas para dar a sensação de aranhões na pele. Em 1970 Yonne Rainer apresentou no Judson Flag Show a bailarinos nus sob bandeiras norte-americanas, que gerou uma grande polêmica. Porém, pouco a pouco a nudez foi ganhando terreno: nos 1980, a companhia Dancenoise, formada por Lucy Sexton e Anne Iobst, usou a nudez como uma ferramenta integral, junto a uma estética punk e outros elementos de grande impacto, como o sangue, em espetáculos próximos da performance. Para Sexton, “a nudez de seguida converte-se em vestuário, e essa é a natureza de estar nu no palco: há um momento inicial em que se abre a porta e cai algum tipo de barreira entre o artista e o público. Eles estão nervosos e excitados e ao artista acontece o mesmo, e elimina-se algum tabu social”.
Colette Andris, bailarina de stripteasedos anos 1920.

Outros trabalhos onde a nudez tem um papel protagonista foram: Glory, de Jeremy Wade, um duo nu que apresenta aos bailarinos arrastando-se e retorcendo-se pelo chão, como signo de vulnerabilidade; Giant Empty e Excessories, de Miguel Gutiérrez, no qual os artistas se tocavam os peitos e os pénis, como mostra de objetuação do corpo; Michael, de Ann Liv Young, no qual o nu é uma metáfora de autenticidade, de naturalidade do corpo; ou NOVA, de Rose Anne Spradlin, onde bailarinos rasgam com tesoiras a roupa a outros até os deixar nus.

Uma variante cênica na que adquiriu grande relevância o nu —especialmente desde princípios do século XX— foi o cabaré, espetáculo geralmente noturno que costuma combinar música, dança e canção —mas que pode incluir também a atuação de humoristas, ilusionistas, mimos e muitas outras artes cênicas -, desenvolvido em salas como Moulin Rouge e Folies Bergère de Paris, onde estrelas como Linopovska e Pouliguen triunfaram com tão somente mostrar os seios nus integrais. Foi nos cabarés que apareceram os primeiros travestis num palco, e onde se representaram as primeiras pantomimas de homossexuais e lesbianas. Neste tipo de espetáculos triunfaram estrelas como Loïe Fuller, Cléo de Mérode e Josephine Baker, que se tornou famosa ao dançar o charleston vestida somente com um cinturão de bananas.

Espetáculos como o cabaré puseram em voga o strip-tease, uma forma de dança na que a pessoa executante se vai tirando a roupa sensualmente ante os espectadores, no que o deleite estético se encontra no fato de se despir com movimentos sensuais, e não na própria nudez. Este tipo de espetáculo fez famosa à célebre Mata Hari em princípios do século XX, enquanto atualmente lançou ao estrelato a figuras como Dita Von Teese e Chiqui Martí, defensora do strip-tease como arte, para o que cunhou o termo strip-art. Igualmente, o strip-tease foi um recurso frequentemente usado pelo cine, como o de Brigitte Bardot e Jeanne Moreau em Viva Maria! (1965), Kim Basinger em Nove Semanas e Meia (1986) e Demi Moore em Striptease (1996).

Veja abaixo algumas fotos de nu artístico de Luh Pinheiro, disponíveis no endereço eletrônico: http://kittyonline.com.br/k/index.php/fatos-a-fotos/principal/1113-q-nu-artistico-q-por-luh-pinheiro-




O Ator...

Por mais que as cruentas e inglórias batalhas do cotidiano tornem um homem duro ou cínico o bastante para fazê-lo indiferente às desgraças e alegrias coletivas, sempre haverá no seu coração, por minúsculo que seja, um recanto suave no qual ele guarda ecos dos sons de algum momento de amor que viveu em sua vida.

Bendito seja quem souber dirigir-se a esse homem que se deixou endurecer, de forma a atingi-lo no pequeno núcleo macio de sua sensibilidade, e por aí despertá-lo, tirá-lo da apatia, essa grotesca forma de autodestruição a que, por desencanto ou medo, se sujeita, e por aí inquietá-lo e comovê-lo para as lutas comuns da libertação.

Os atores têm esse dom. Eles têm o talento de atingir as pessoas nos pontos nos quais não existem defesas. Os atores, eles, e não os diretores e os autores, têm esse dom. Por isso o artista do teatro é o ator.

O público vai ao teatro por causa dos atores. O autor de teatro é bom na medida em que escreve peças que dão margem a grandes interpretações dos atores. Mas, o ator tem que se conscientizar de que é um cristo da humanidade e que seu talento é muito mais uma condenação do que uma dádiva. O ator tem que saber que, para ser um ator de verdade, vai ter que fazer mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios. É preciso que o ator tenha muita coragem, muita humildade, e sobretudo um transbordamento de amor fraterno para abdicar da própria personalidade em favor da personalidade de seus personagens, com a única finalidade de fazer a sociedade entender que o ser humano não tem instintos e sensibilidade padronizados, como os hipócritas com seus códigos de ética pretendem.

Eu amo os atores nas suas alucinantes variações de humor, nas suas crises de euforia ou depressão. Amo o ator no desespero de sua insegurança, quando ele, como viajor solitário, sem a bússola da fé ou da ideologia, é obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente, procurando no seu mais secreto íntimo afinidades com as distorções de caráter que seu personagem tem. E amo muito mais o ator quando, depois de tantos martírios, surge no palco com segurança, emprestando seu corpo, sua voz, sua alma, sua sensibilidade para expor sem nenhuma reserva toda a fragilidade do ser humano reprimido, violentado. Eu amo o ator que se empresta inteiro para expor para a platéia os aleijões da alma humana, com a única finalidade de que seu público se compreenda, se fortaleça e caminhe no rumo de um mundo melhor, que tem que ser construído pela harmonia e pelo amor. Eu amo os atores que sabem que a única recompensa que podem ter – não é o dinheiro, não são os aplausos - é a esperança de poder rir todos os risos e chorar todos os prantos. Eu amo os atores que sabem que no palco cada palavra e cada gesto são efêmeros e que nada registra nem documenta sua grandeza. Amo os atores e por eles amo o teatro e sei que é por eles que o teatro é eterno e que jamais será superado por qualquer arte que tenha que se valer da técnica mecânica. (Plínio Marcos - 1986)